Sustentabilidade no transporte ou só febre do momento

Desde meu primeiro ano trabalhando em Redmond, no estado de Washington, eu tinha uma enorme vontade de migrar para um veículo elétrico. No caminho para o trabalho, eu diariamente via um bom número de carros elétricos, e a ideia me pareceu bem interessante, não somente pelo fato de não poluir por queimar combustível, mas pela simplicidade que elétricos oferecem, a possibilidade de que carro seja algo mais simples, menos propenso a quebras e manutenções periódicas caras e que não dependesse de postos de gasolina. Isso tudo porque eu ainda não sabia que você carrega o carro numa tomada 110V normal, eu achava que teria que necessariamente instalar algo, ou morar em um prédio com suporte. Eu demorei um pouco para investir em um carro elétrico porém, primeiro porque tive acesso a uma boa oferta de uma SUV e só precisava de um carro família mesmo, pois ia com transporte público ao trabalho. Uma vez que me mudei para uma cidade vizinha, a uns bons 30 minutos de distancia e minha esposa precisando mais do carro, eu decidi por comprar um carro elétrico, financiei então meu primeiro, um Nissan Leaf semi novo, ainda em excelente estado, com a bateria em bom estado também. Tenho a vantagem de haver formas de carregar no trabalho, mas raramente uso, pois com a bateria cheia ele faz a viagem de ida e volta e quando chego em casa, ponho para carregar durante a noite, estando plenamente carregado de manhã. Lógico que tem dias que preciso mais, esqueci de carregar durante a noite, ou tenho compromissos em outros lugares, mas aí posso utilizar da carga rápida durante o trabalho, que recompõe a minha bateria em cerca de 2 horas. Esta forma de carga também está disponível pela cidade, geralmente próximo à hotéis, restaurantes, lojas, bares ou locais para eventos. Ou seja, distração o bastante para o tempo necessário para carregar.

Mas aí vem a pergunta do título, é sustentável? Não mais do que utilizar alternativas coletivas, além do que, não podemos observar somente a falta de emissão direta do veículo, se a energia elétrica utilizada veio da queima de carvão, então ele é responsável indiretamente pela emissão de poluentes e carbono. Porém, contra a gasolina também temos o enorme custo energético e ambiental em sua extração, refino, armazenamento e transporte, além de exigir uma rede adicional de distribuição, os postos de gasolina, coisa que não é necessário no caso do carro elétrico visto que pode utilizar o grid elétrico já disponível. Veículos elétricos também são mais eficientes na sua operação visto que recuperam energia durante a frenagem, reduzindo gastos com freios e aumentando a milhagem por kWh. Esta concentração da demanda energética na energia elétrica também tem o benefício de usufruir em melhoras nas fontes de energia, por exemplo, se a distribuidora local passar a usar mais fontes sustentáveis o benefício é imediatamente aplicado ao seu carro, diferente de veículos que demandam formas alternativas de energia. Por fim, com o acesso de consumidores aos painéis solares, permite-se que os mesmos possam produzir parte ou toda a energia necessária para a operação de seus veículos. Estes painéis vem melhorando significativamente em eficiência de captação, assim como preços vem se tornando mais acessíveis e muitos governos estão subsidiando crédito para instalação. Melhoras estéticas também vem aparecendo, tornando o próprio telhado como um gigante painel solar. Além de opções domésticas de armazenamento, que também se beneficiam de constantes melhoras no setor de baterias. 

Se colocarmos a coisa em escala e integrando com outros serviços na área, como Táxis, Uber, Lyft e também serviços de aluguel rápido, existe um grande ganho de eficiência no uso de energia nos transportes com muito menor impacto ambiental. Como um mercado emergente, com os devidos incentivos é possível facilitar o acesso aos profissionais do ramo e também ter um mercado de semi-novos fortalecido. Um outro ponto na sustentabilidade desses veículos elétricos é que contamos com melhoras significativas nos processos de reciclagem de vários dos componentes.

Meu carro hoje não tem muita autonomia, conseguindo fazer por volta de 70 milhas, o que é cerca de 100km. Atende as demandas do dia a dia, sem problemas, ainda mais em cidades como São Paulo, onde o problema não é necessariamente distância mas sim trânsito. Porém, a realidade dos modelos atuais é bem diferente, grande parte tem em média mais de 200 milhas de autonomia, estamos falando de mais de 300km, o que já acomodaria várias viagens maiores mesmo sem nenhum investimento em infra-estrutura. Promessas futuras em tecnologia de baterias, como baterias flexíveis e estruturais, podem ampliar a autonomia para muito além desses valores, ou alternativamente, reduzir o espaço gasto com bateria e peso dos veículos, permitindo inovar no campo do design do veículo com maior liberdade.

Por fim, quem aqui nunca sonhou com uma pujante indústria brasileira de automóveis? Eu batizaria de FREVO (pra quem gosta de acrônimo pode ser Frota Revolucionária Elétrica de Veículos Originais), e no Brasil isso é algo que ainda não está estabelecido, observando preços no WebMotors, temos que um Tesla custa em torno de 1 milhão, o Nissan Leaf sai por 300 mil, Chevrolet Bolt por 200 mil e híbridos são os únicos na faixa abaixo de 100 mil (Prius a 70 mil). Caberia a um programa nacional de incentivo ao veículo elétrico estabelecer formas de financiar estabelecimentos para instalação de pontos de recarga rápidos, incentivar prédios e condomínios residenciais e comerciais a também terem pontos de recarga para seus inquilinos, vantagens tributárias para produtores e proprietários de veículos elétricos e pudera, a criação da FREVO, com sua frota dinâmica e colorida, FREVO Canção, um conversível para quem tá sorrindo pra vida, FREVO de Rua, um compacto para o dia a dia, FREVO de Bloco, o SUV para toda a família e até para a Tuba.


Fontes das Imagens (na ordem em que aparecem)

https://newmotion.com/en/knowledge-center/news-and-updates/5-reasons-evs-are-the-future-of-fleets
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